Você é o culpado!


"A culpa não poderá ser colocada na conta da Pia"

O comentarista escreve em seu artigo que a nova técnica da seleção brasileira de futebol feminino, Pia Sundhage: "é um desafio para jogadoras e jornalistas" porque, segundo ele, antes dela: "toda decadência do futebol feminino era colocada nas costas do Vadão" e que a partir de agora: "não tem desculpa mais ... a culpa não poderá ser colocada na conta da Pia". Podemos fazer algumas reflexões sobre o seu texto.

É impressionante como o comentarista sempre quer "achar um culpado" para tudo! Uma hora é o goleiro que falhou ou então o atacante que perdeu o gol, outra hora o "culpado" é eleito por razões bem mais subjetivas, como por exemplo, o técnico que escalou o fulano ao invés do ciclano ou que, supostamente, mandou o time recuar ao invés de atacar (ou o contrário), ou então a estrela do time que "não jogou tudo que podia jogar". Tudo besteira. O futebol é um esporte coletivo... são 11 + 3 (substituições) jogadores de cada lado, mais os técnicos, auxiliares, preparadores, médicos, massagistas, etc. Fora este "exército" de pessoas, temos ainda a influência dos juízes e a pressão da torcida, jornalistas, dirigentes, empresários, família, COMENTARISTAS, etc. Com tantas variáveis envolvidas... com tanta imprecisão, com tanta incerteza... aparece o comentarista, dono absoluto da verdade e aponta um "culpado" para a derrota. Parabéns!

Agora, com a contratação da treinadora sueca, o comentarista afirma que vai ter que encontrar outro "culpado". Curioso... quer dizer que o fato da nova técnica ser bicampeã olímpica impede a mesma de ser eleita a "culpada" do dia?!? Qual é a lógica? Seguindo este raciocínio, ele nunca poderia "culpar" o multi-campeão Tite pelas derrotas da seleção, correto? Mas ele o faz... e com frequência.

Comentaristas na mesma linha


"A Chape chegou a fazer um gol legal que o VAR anulou"


"A Chape fez um gol anulado pelo VAR numa mesma linha das mais mesmas linhas que já vi"

Na partida São Paulo 4 x 0 Chapecoense, quando a partida já estava 3 a 0 para o time da casa, a Chapecoense fez um gol mas o bandeirinha marcou impedimento que, à primeira vista, parecia óbvio. A TV, no entanto, mostrou que o lance era bem difícil e, depois de um tempo, o VAR confirmou a marcação do bandeirinha e o gol foi mesmo anulado. Os dois comentaristas escreveram em seus artigos que o VAR errou. Eles estão certos?

Não, eles estão equivocados... o VAR acertou.

Com certeza eles basearam suas opiniões na imagem mostrada pela Globo e na fala do comentarista de arbitragem da emissora (que também se equivocou).



Primeiro apenas uma observação:

Lembremos que a imagem foi gerada pela Globo (não pelos árbitros de vídeo) e, por ser uma imagem estática, não podemos ter certeza se este é o exato momento em que o jogador da Chapecoense, que fez o passe, toca na bola. Como os jogadores estavam em movimento rápido (os do São Paulo saindo e os da Chapecoense entrando), qualquer fração de segundo pode alterar significadamente a situação. Existe a possibilidade do VAR ter feito a análise sobre uma foto com a posição dos jogadores sutilmente diferentes.

Agora o mais importante:

Dois fatores contribuíram para que esta imagem desse a falsa impressão que o tronco do jogador da Chapecoense está na mesma linha do pé do jogador do São Paulo:

1. A linha amarela foi desenhada muito grossa
2. O tronco do jogador da Chapecoense está muito mais alto do que o pé do jogador do São Paulo

Na verdade, o tronco do jogador está no início da linha e o pé está no final da mesma, praticamente fora dela. A diferença é pequena, mas o jogador estava mesmo impedido.

Só comenta quem erra


"Só bate quem erra (sic)"

O comentarista fez um artigo respondendo à seguinte pergunta: "Dudu ou Diego? Quem errou mais?". Dudu, atacante do Palmeiras, não bateu o pênalti e o seu time foi eliminado pelo Internacional, Diego, jogador do Flamengo, bateu mas errou e o seu clube também acabou eliminado pelo Atlético Paranaense. Depois de uma "análise científica" ele chegou a seguinte conclusão: quem errou mais foi Diego... e criticou o jogador de modo contundente: "este erro merece uma CPI interna". A "análise" do comentarista está certa?

Ao comentar os erros dos jogadores, o comentarista sempre usa um argumento absolutamente tolo, na sua visão distorcida da realidade, os jogadores ganham "milhões" então eles não podem errar, ponto. Muito interessante e conveniente este raciocínio, especialmente quando lembramos que o comentarista (segundo ele mesmo) jogou futebol diariamente dos 5 aos 15 anos e nunca foi o penúltimo a ser escolhido, ou seja, apesar de tentar muito, sempre foi péssimo no esporte. Será que ele tem inveja porque os jogadores profissionais são muuuuuito melhores que ele ou porque eles ganham muuuuuito mais? Sei lá... o fato é que ele esquece que o jogador por melhor que seja, é um ser humano e não uma máquina, não é perfeito, existe a questão emocional, nervosismo, do outro lado (adversário) tem um profissional que também ganha "milhões", enfim... ele erra, queira o comentarista ou não.

Mas o pior ficou mesmo para o final... o comentarista termina o seu texto, no qual critica os erros dos outros, escrevendo errado a velha máxima do futebol...

Ele escreveu: "Não venha com esta historinha de "só bate quem erra"" ao invés de "só erra quem bate".

Ah, esqueci que ele não ganha milhões né? Então pode errar à vontade...

Crítica burra


"A economia burra da utilização da mesma estrutura dos anos 70"

O comentarista critica o dinheiro gasto pelo São Paulo na modernização da iluminação do Morumbi. Os antigos refletores foram trocados ao custo de 2,8 milhões, por modelos mais modernos de LED fabricados pela Phillips, com maior capacidade de iluminação (maior do continente) e mesmo assim muito mais econômicos. Ele afirma que o clube: "investiu mal", não por conta do material utilizado, mas por conta: "da colocação em locais inadequados" e ataca: "a economia burra da utilização da mesma estrutura dos anos 70". Será que o comentarista agiu corretamente?

Não... o desejo de falar mal da direção do clube é muito maior do que a vontade de investigar e informar. Vejam alguns pontos importantes:

1) O artigo é baseado em "achismo". Nenhum especialista foi procurado para dar uma opinião sobre o assunto.

2) Antes de criticar a troca da iluminação ele deveria buscar informações no clube procurando entender melhor as características do projeto, como ele é bom para o clube, porque foi feito desta maneira, quais seriam as vantagens e desvantagens de se fazer de outro modo, enfim, o básico do jornalismo: ouvir o outro lado.

3) Ele critica o uso da estrutura antiga mas logo em seguida cai em contradição ao questionar se o Morumbi, de fato, teria um local mais apropriado para colocação da nova estrutura: "sem arcar com custos relevantes". Afinal, usar a estrutura antiga foi uma economia burra ou, apesar de não ideal, foi o melhor que podia ser feito? Se o clube tivesse gasto uma fortuna para fazer uma nova estrutura, provavelmente ele estaria criticando o gasto excessivo com este item ao invés de usar a estrutura já existente.

Comentarista de outro mundo


"Houve uma falha de marcação e não um fator sobrenatural"

O comentarista escreveu um artigo criticando a declaração do técnico Cuca do São Paulo que disse que o gol de empate do Palmeiras "foi espírita" e que "a iluminação do Morumbi atrapalhou" o goleiro Volpi. Segundo o comentarista isto é: "desculpa esfarrapada" e que "houve uma falha de marcação e não um fator sobrenatural". Faz sentido?

Não. O comentarista está equivocado por dois motivos:

1. Quando o Cuca diz "gol espírita" ele não quer dizer que aconteceu algo "sobrenatural" como pensa o comentarista. A expressão "gol espírita" é usada no futebol "desde sempre" para descrever um gol marcado de forma inusitada, sem querer, "por acidente". Em que mundo o comentarista vive?

2. O gol aconteceu em um lance de extrema sorte do atacante... o chute foi bloqueado pela defesa mas a bola apesar de ter sua trajetória totalmente alterada, foi para muito alto e, caprichosamente, bateu no travessão, nas costas do goleiro e entrou no gol. Ótimo exemplo de "Gol espírita". Colocar a culpa na: "falha de marcação da defesa" mostra que o comentarista nunca praticou um esporte coletivo na vida ou veio de "outro mundo". Será que ele acha que o Dudu "encarnou" o Rui Chapéu e fez o gol no melhor estilo do exímio jogador de sinuca, fazendo a bola bater em vários obstáculos antes de entrar na "caçapa" cantada previamente?